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segunda-feira, 25 de setembro de 2006

ARTIGO DA SEMANA - "Negócios com inclusão social"

Essa coisa de inclusão social não vem de agora!

Olha a matéria que garimpei do Jornal Estado de São Paulo de 30 de outubro de 2004, e que foi escrita por Fernando Almeida - presidente-executivo do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS) e professor-adjunto da UFRJ:


NEGÓCIOS COM INCLUSÃO SOCIAL

"Não existem empresas bem-sucedidas em uma sociedade falida". A frase de Bjorn Stigson, Presidente do Conselho Empresarial Mundial para o Desenvolvimento Sustentável (WBCSD), inspira e dá sustentação filosófica a uma revolucionária estratégia para combater a pobreza e a desigualdade social. A nova prática de empreendimento será, com toda certeza, um dos pilares fundamentais para que consigamos cumprir as metas de desenvolvimento do milênio e oferecer melhores perspectivas de vida às regiões mais pobres do planeta. Não se trata de caridade ou filantropia, mas de uma visão pragmática, para inserir no mercado a base da pirâmide social.

O cenário global hoje é preocupante e há uma tendência de acirramento de tensões. Segundo dados da ONU, o mundo abriga 4 bilhões de pessoas fora do mercado. No Brasil, a situação é igualmente delicada: somamos 50 milhões de miseráveis, mais de 25% da população do País, sem acesso a educação, saneamento e energia, de acordo com estatísticas de instituições oficiais. O quadro explica a violência crescente, no Brasil e no restante dos países pobres.

Seria injusto afirmar que a sociedade brasileira está de braços cruzados. O governo federal instituiu o programa Fome Zero e, segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o setor privado aplicou nos últimos dois anos R$ 4,7 bilhões em projetos sociais. Contudo, só isso não basta. Nosso Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) continua estagnado. É preciso ir além, criando mecanismos de crédito para a camada de baixa renda no campo e nas cidades, instituindo programas educacionais voltados para a sustentabilidade. Enfim, estabelecer um modelo de parceria entre governos e o setor privado que atenda a interesses de todos com uma visão holística, ética e de longo prazo.

A publicação do WBCSD "Negócios com inclusão social - guia prático para empresas", cuja versão em português acaba de ser lançada no Brasil, mostra que o setor empresarial começa a sair de um ciclo vicioso, no qual a maioria das empresas compete por uma minoria de consumidores em potencial, ignorando um mercado bastante significativo, mas ainda latente. Para pôr em prática a nova estratégia, alguns pontos são imprescindíveis para a empresa: concentrar-se naquilo que faz de melhor para não perder o foco, estabelecer uma política sólida de parcerias com governos e outros grupos de interesse e desenvolver a capacidade contínua de agregar valor através do conhecimento dos parceiros envolvidos. Em resumo, poderíamos definir essa abordagem no conceito de "empreendedorismo sustentável". A inovação mais radical reside em ver os países e comunidades pobres sob a perspectiva de parceiros e clientes em potencial.

Empresas globais, algumas delas instaladas no Brasil, deram partida nesse processo de inclusão social em seus negócios e os primeiros resultados indicam que estão no caminho correto. A Michelin, por exemplo, está desenvolvendo um projeto pioneiro. O programa Ouro Verde da fabricante de pneus francesa instalada no Rio consistiu no parcelamento e venda de parte de uma área da empresa de 10 mil hectares no Sul da Bahia. A área foi dividida em três faixas: uma para plantio em parceria com produtores, que compraram a terra com financiamento subsidiado e pagamento vinculado à produção; outra destinada à pesquisa e desenvolvimento de borracha natural e uma terceira reservada à proteção ambiental de mata atlântica, onde se inclui projeto de ecoturismo. A iniciativa, além de atender a demanda da empresa por matéria-prima, está abrindo uma perspectiva de mercado para a população local. O projeto da Michelin é emblemático, porque envolve, ao mesmo tempo, as três dimensões do desenvolvimento sustentável - econômica, social e ambiental.

A Amanco, no Amazonas, também comprovou que é possível inserir sua linha de produção em mercados de baixa renda, vendendo tubos e conexões a preços inferiores aos do mercado convencional, por meio de um novo modelo de marketing e distribuição. A Alcoa, da mesma forma, entrou nesse mercado, viabilizando o fornecimento de esquadrias de alumínio para a construção civil de baixa renda. A BP do Brasil investiu em projetos de introdução de energia alternativa de células solares na Ilha Grande, no Rio, e no Nordeste, demonstrando que é possível gerar negócios e, ao mesmo tempo, garantir a inclusão social de populações que há bem pouco tempo viviam isoladas e que agora passaram a ter acesso a programas educativos do Canal Futura das Organizações Globo e ao mundo da informática. No setor financeiro, o Banco do Nordeste e o Banco Real mantêm programas de microcrédito, voltados para financiar, a juros baixos, pequenos empreendedores. O resultado, nas duas pontas, é excelente.

Assim, não devemos interpretar os exemplos citados acima como ações isoladas. Ao contrário, devemos encará-los como o início de um processo pragmático de inclusão social nos negócios. O segmento mais consciente do setor empresarial tem dado provas contundentes de que, com uma gestão responsável e utilizando ferramentas de ecoeficiência, é possível obter ganhos econômicos. Agora, está na hora de demonstrar também que o mesmo sucesso pode ser obtido na dimensão social. Esta nova estratégia representa mais um passo decisivo rumo ao desenvolvimento sustentável e eleva as empresas à condição de principais provedoras de soluções.

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