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sábado, 6 de janeiro de 2007

Agronegócio traz ao Brasil US$ 239 bilhões em dez anos.

A agropecuária brasileira é vítima da própria eficiência. O setor paga caro pelo excesso de dólares que traz ao país. Nos últimos dez anos - de 1997 a 2006 -, a receita líquida da balança comercial do agronegócio soma US$ 239 bilhões. Se por um lado o agronegócio salva as contas nacionais, por outro derruba a cotação do dólar, um dos fatores de perda de renda para os produtores.

Como a agropecuária brasileira é exportadora - devido à falta de crescimento interno da economia e de um mercado externo com demanda forte -, o real valorizado e o dólar fraco fazem o produtor brasileiro perder renda nas exportações.

Mas, mesmo com volume elevado de dólares, o agronegócio continua surpreendendo e, ao contrário do que se previa, as receitas externas do ano passado voltaram a registrar recorde.

Apesar de todos os problemas internos vividos pela agropecuária em 2006, as exportações do agronegócio continuaram a todo o vapor, com receitas líquidas de US$ 42 bilhões. E esse ritmo deve continuar neste ano, devido às mudanças de cenário nos preços externos. As receitas do agronegócio deste ano devem somar US$ 44,5 bilhões, segundo Victor Abou Nehmi Filho, do Instituto FNP.

Os últimos dois anos podem ser classificados entre os piores para a história da agricultura brasileira. E a situação só não ficou pior devido ao grande volume de dinheiro que o governo foi obrigado a injetar no setor.

Até a soja, que há muitos anos caminhava com as próprias pernas, foi um dos principais focos de ajuda do governo. A crise foi tão acentuada que até as multinacionais reduziram os preços dos insumos que fornecem aos agricultores. Do contrário, as vendas teriam caído ainda mais.

"Foi um período para ser riscado da história da agricultura, mas não para ser esquecido." A afirmação é do paranaense José Pitoli, há três décadas na agricultura e que diz nunca ter visto dois anos seguidos tão ruins como foram 2005 e 2006.

Se a frase parece um contrasenso, é, na verdade, um lembrete. Muitos erros foram cometidos pelos produtores no auge dos preços das commodities, diz Pitoli. Sem se preocupar com a gestão dos negócios, muitos produtores aumentaram a área de plantio e compraram mais máquinas. Foram pegos no contrapé na crise.

Aliás, gestão é a palavra do momento e uma das indicações de saída da crise. Este ano deve marcar o início da recuperação, mas o crescimento deverá ser mais com qualidade do que com quantidade, afirma Anderson Galvão, especialista em soja da Consultoria Céleres, de Uberlândia (Minas Gerais).

Fernando Muraro, da AgRural, de Curitiba (PR), também destaca que a gestão é fundamental para o produtor. As commodities agrícolas seguem o caminho de investimentos do mercado financeiro, diz ele.

Oferta e demanda deixaram de ser parâmetro para uma avaliação futura de preços. Uma análise do mercado de soja, por exemplo, exige amplo conhecimento da situação mundial do petróleo, dos efeitos da agroenergia sobre o milho e da conseqüência do biodiesel sobre a própria soja. Só depois é possível fazer uma análise dos preços da oleaginosa, diz Muraro.

Apesar de todos os problemas vividos pelos agricultores nos dois últimos anos, o cenário é bastante favorável em 2007. Os produtores entram neste ano com um volume de dívidas acima do normal, mas as condições climáticas e de preços podem servir de alívio.

Para o ministro da Agricultura, Luís Carlos Guedes Pinto, as nuvens negras estão indo embora do campo. E um dos motivos é a agroenergia.

Para André Pessoa, da Agroconsult, o fluxo de caixa vai melhorar na agricultura, que começa novo ciclo de crescimento. O estoque das dívidas e o caminho para saneá-las vão determinar a extensão e a intensidade desse crescimento.

O milho deve ser, em 2007, a vedete que a cana-de-açúcar foi em 2006. E, como diz Muraro, uma alta nos preços do milho mexe com todas as outras commodities, como soja e trigo.

Leonardo Sologuren, especialista em milho da Céleres, diz que o cenário é bom para o produto neste ano. A redução de excedente nos Estados Unidos e a entrada da China no setor de agroenergia darão maior rentabilidade ao produto.

O Brasil será um dos grandes favorecidos, podendo exportar, já neste ano, 5 milhões de toneladas. Em dez anos, o país poderá colocar no mercado externo 18 milhões de toneladas, segundo Sologuren.

Para Nehmi, o milho começa a atrair neste ano também as multinacionais, que já fazem contratos antecipados para dois anos. "O interesse dessas empresas globais significa uma possibilidade latente - e não mais circunstancial - para o Brasil", acrescenta Sologuren.

Se houver problema na próxima safra norte-americana de milho, o Brasil poderia obter US$ 800 milhões em receitas neste ano. Na avaliação dos especialistas, esse é um produto cujas receitas líquidas vão superar US$ 1 bilhão em breve.

Mauro Zafalon
Folha de S.Paulo

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